Ainda dentro da ótica de
comparação das diferentes realidades e tentando entender
as razões pelas quais determinados empreendimentos funcionam
em algumas cidades e não em outras, ou seja, por quais razões,
por exemplo, o Shopping de Piracicaba lota todos os finais de semana,
enquanto que em Limeira a realidade é outra, ou ainda, para
tentarmos estabelecer referenciais para o nosso progresso, visitamos
o site do IBGE – www.ibge.gov.br
e colhemos alguns dados sobre a composição das populações
das duas cidades, bem como alguns indicadores econômicos e financeiros.
O objetivo é traçar um benchmark, um referencial positivo,
e deixar de lado aquelas visões bairristas de que devemos comprar
apenas em Limeira (os Piracicabanos só comprariam em Piracicaba,
e assim por diante) e que nos levariam de volta para a Antiguidade,
quando as cidades eram cercadas por muros.
Um dos fatores de enriquecimento de uma sociedade é o comércio,
a troca com outras sociedades. Todavia, isto requer inovação
constante de produtos e serviços, o que, por sua vez, requer
mão de obra qualificada e motivada.
A realidade é que Piracicaba está implantando um plano,
elaborado por toda a sociedade, através de representantes das
Organizações Não Governamentais, das Empresas
e do Poder Público, chamado Piracicaba 2010, e que vem trazendo
bons resultados para a população.
Também é importante lembrar que a situação
de nossa cidade hoje, assim como a de Piracicaba e de outros municípios,
resulta de anos de planejamento (ou falta dele) e de trabalho sério
por parte das lideranças de cada cidade.
Antes de analisarmos os dados, vale lembrar que, na nossa opinião,
também é balela o discurso de que precisamos ter deputados
de Limeira para progredir. Já os tivemos no passado e eles
se enriqueceram, compraram aviões, etc., e a cidade continuou
estagnada. Se fosse necessário ter deputados para que uma cidade
se desenvolvesse, seriam necessários mais de 5000 congressistas
em Brasília, a um custo exorbitante, como sabemos. Além
do mais, os melhores exemplos de desenvolvimento e qualidade de vida,
EUA e Europa, estão baseados em sistemas políticos diversos
do nosso, ou seja, voto distrital e outras regras mais sérias,
e naquelas paragens o número de congressistas é proporcionalmente
bem menor do que o nosso.
O que faz com que uma região se desenvolva é a elaboração
e implementação de um plano com objetivos claramente
definidos, focados em necessidades futuras e baseados em competências
existentes ou a serem desenvolvidas, e é isto que nos atrasa,
pois até aqui os poucos “planos” apresentados não
passam de inaugurações de barracões e concessões
de benefícios a forasteiros, sem passar pelo investimento em
educação e treinamento de mão de obra ou em pesquisa
e desenvolvimento de competências.
Mas, como diria aquele comentarista esportivo, vamos aos números,
apresentando na tabela I os dados demográficos relativos a
2000 / 2001 e na Tabela II os dados econômicos / financeiros
relativos ao ano de 2003:
Fonte: www.ibge.gov.br
A tabela acima nos permite algumas análises que podem explicar
a razão do dinamismo comercial de Piracicaba e o anêmico
desempenho da economia limeirense, pois não se trata apenas
da questão do Shopping Center, já que estudo recente
mostrou que as exportações de Piracicaba são
quase o dobro das de Limeira.
Pela tabela I observa-se que, embora tenha uma população
32% maior que a de Limeira, o que realmente tem significado são
os seguintes fatos:
- Limeira tem, proporcionalmente, muito mais pessoas com rendimento
baixo, até 3 salários mínimos mensais, do que
Piracicaba, ou seja, em Limeira 35% das pessoas com mais de dez anos
de idade estão em tal nível de rendimento, enquanto
que em Piracicaba apenas 31% da população se encontra
nesta faixa. Alguns dirão que a diferença é apenas
4% - não é – a diferença não deve
ser calculada pela subtração (35 – 31) e sim pela
divisão (35: 31) o que mostra que, proporcionalmente, temos
13% a mais de pessoas na faixa mais baixa de renda.
- Já na faixa seguinte, entre 3 e 5 salários mínimos
mensais, Piracicaba fica adiante de Limeira e na medida em que analisamos
as faixas mais elevadas, a diferença se acentua, como por exemplo
na faixa de 5 a 10 salários mensais onde Limeira tem 10,1%
da população com mais de dez anos de idade e Piracicaba
tem 12,2% - se dividirmos 12,2 por 10,1 encontraremos que a diferença
é de 20%, ou seja, nesta faixa de renda, proporcionalmente,
Piracicaba tem 20% a mais de consumidores.
- Quando analisamos as duas faixas de renda mais elevada, a diferença
é bem mais significativa: pessoas com renda entre 10 e 20 salários
em Limeira são 3,5% da população, enquanto que
em Piracicaba, nesta mesma faixa, encontramos 4,9% da população.
Novamente, dividindo-se 4,9 por 3,5 temos que, na cidade vizinha,
existem 40% mais consumidores nesta faixa de renda do que em Limeira.
E na última faixa a diferença é ainda maior,
pois Limeira apresenta 1,5% da população com mais de
10 anos de idade com renda maior que 20 salários enquanto que
Piracicaba apresenta 2,6%, e na divisão de 2,6 por 1,5 constata-se
que, proporcionalmente, a noiva da colina tem 73% mais consumidores
nesta faixa.
A mesma tabela nos permite divagar sobre possíveis causas dos
Piracicabanos auferirem melhor renda, bastando olhar para os dados
sobre formação educacional, onde se constata que em
Limeira temos 5,9% de pessoas com mais de dez anos de idade sem instrução
enquanto que Piracicaba apresenta apenas 4,6%, ou seja, temos, proporcionalmente,
28% mais analfabetos.
No que concerne o assunto nível educacional, temos fenômeno
diretamente proporcional ao constatado nos rendimentos, ou seja, enquanto
Limeira tem 17,3% da população maior de dez anos com
11 a 14 anos de estudo, Piracicaba tem, na mesma faixa educacional,
19%, significando quase 10% a mais. Na faixa máxima de nível
educacional é que a diferença é gritante, pois
enquanto Limeira apresenta 4,9% da população adulta
com mais de 15 anos de estudo (portanto, com nível superior),
Piracicaba tem 7,2% da população na mesma faixa, e a
diferença é de assustadores 47% - ou seja, existem,
proporcionalmente, 47% mais residentes em Piracicaba com curso superior
do que em Limeira.
Alguns dirão o óbvio: “Ah, mas lá existem
3 universidades..” – Sim, é verdade, mas a questão
que se levanta é: Tais universidades caíram lá
por acaso ou existiram planos e movimentos para que elas lá
se instalassem? E mais ainda, se analisarmos os cursos oferecidos
pelas universidades instaladas em Piracicaba observaremos que não
são concorrentes, ou seja, o que é oferecido pela Unicamp
não é oferecido pelas outras duas, e o que oferece a
USP não é oferecido pelas demais. Já em Limeira,
além de termos somente faculdades particulares, basta uma oferecer
curso de pedagogia ou administração para que as demais
ofereçam exatamente o mesmo curso, derrubando nível
de qualidade via redução de custos e investimentos.
Onde está o planejamento?
Claro está que população com melhor nível
educacional significa melhor nível de renda e, conseqüentemente,
melhor nível de consumo, como demonstra a proporção
entre veículos e habitantes, na Tabela I, ou como demonstram
os dados da Tabela II, abaixo:
Fonte: www.ibge.gov.br
- Banco Central do Brasil – Registros Administrativos 2003.
Como podemos ver pela tabela II, planejamento da cidade, combinado
com população mais qualificada, pode resultar em uma
economia muito mais vigorosa, pois embora a população
de Piracicaba seja somente 32% maior que a de Limeira, os dados financeiros
mostram que circula muito mais dinheiro por lá do que por aqui
e não é porque os Limeirenses vão passear lá
em finais de semana que o Shopping de lá tem sucesso enquanto
que aqui temos 1/3 de shopping no centro, que vive lotado de adolescentes
das famílias de baixa renda e que, no futuro, não terão
onde trabalhar.
Observemos que o volume de operações de crédito
em Piracicaba é 134%, mais do que o dobro, do volume realizado
em Limeira, ou seja, ocorrem muito mais negócios lá
do que aqui.
Da mesma forma, o volume de depósitos a vista, mostrando o
vigor da economia, é exatamente o dobro, o que significa que
não é só o tamanho da população
que conta. E, para encerrarmos a análise da tabela, vamos recordar
que, da teoria econômica, poupança é igual ao
investimento, ou seja, para investir é necessário poupar,
e neste quesito a soma dos depósitos a prazo com o item classificado
como poupança mostra que Piracicaba tem muito mais “gás”
para se desenvolver do que Limeira.
Recentemente noticiou-se a dispensa de 150 funcionários da
antiga União de Refinadores, sendo que na última década
testemunhamos o desaparecimento de diversas empresas outrora fortes
geradoras de emprego e renda, e não vimos, no mesmo período,
nada que substituísse tais fontes de emprego e renda.
A economia é dinâmica, as necessidades dos consumidores
mudam velozmente, a inovação tecnológica oferece,
quase que diariamente, novos produtos e é necessário
que líderes estejam atentos para tais mudanças. O presidente
Juscelino soube captar a tendência que se estabelecia e estimulou
a vinda da indústria automobilística. Da mesma forma,
apesar de suas falhas em outras áreas, os militares estabeleceram
a Embraer, hoje grande geradora de divisas para o país, em
síntese, líderes são visionários, são
pessoas que tomam decisões e as implantam quando outros ainda
não percebem o futuro.
Em Limeira, infelizmente, nada foi feito para atrair, por exemplo,
indústrias de celulares, de computadores, de micro-ondas, apenas
para citar alguns dos atuais campeões do consumo. E não
é apenas na indústria que é possível encontrar
a renda e o emprego, tão necessários ao progresso. Comparações
com cidades como Ribeirão e S. José do Rio Preto, cujas
economias não estão tão fortemente baseadas na
indústria, mostram que elas gozam de melhor situação
econômica e social pelo modelo adotado e não por obra
do acaso.
O entroncamento de rodovias no qual nos localizamos tem servido muito
mais para a saída de investidores e de mão de obra qualificada,
bem como para a chegada de migrantes que trazem apenas um título
de eleitor, do que para receber investimentos em empresas participantes
de novos segmentos da economia.
Há 30 anos, quando entramos no mercado de trabalho, as empresas
limeirenses líderes em tecnologia eram Varga e Fumagalli, respectivamente
TRW e ArvinMeritor hoje, e continuam sendo, ou seja, desaparece uma
refinadora de açúcar que, por razões ambientais
e de custos, não pode mais funcionar a 400 metros da principal
praça da cidade, e em seu lugar nada surge, continuamos ainda
com o modelo de desenvolvimento econômico de 30 anos atrás!
Finalizando, a proposta deste estudo não é fazer baixar
a auto-estima do limeirense. A proposta é lembrar que se consegue
elevar a auto-estima, o bem estar e o nível de qualidade de
vida quando se tem a humildade para reconhecer que outros seguiram
caminhos melhores e que devemos fazer nossa lição de
casa, planejando, estudando e trabalhando em busca de inovações
na economia local, em lugar de exaltarmos indústrias que, salvo
exceções aqui citadas e outras, tem seu lucro baseado
apenas em salários baixos e evasão de impostos.