Não
foi esta a manchete dos jornais naquele fatídico abril de 1912,
mas bem poderia Ter sido. Vamos imaginar como as coisas poderiam haver
se desenrolado, caso alguns comportamentos tivessem sido diferentes.
Imaginemos que os jornais de 18 de Abril de 1912 houvessem trazido
a manchete acima e o seguinte relato:
" Acaba de chegar a Nova Iorque, vindo de Southampton, o Titanic,
o mais novo e moderno transatlântico já construído.
O navio, construído segundo as mais avançadas técnicas
da engenharia naval e equipado com o que de melhor existe em tecnologia
atualmente, enfrentou, nesta sua viagem inaugural, um desafio que
quase o pôs a pique, arriscando a vida das milhares de pessoas
a bordo.
Ao deixar Southampton, o comandante expôs para a tripulação
e passageiros todas as vantagens e pontos fortes do Titanic, deixando
bem claro que ele é o mais robusto, moderno e veloz navio já
construído, chegando a utilizar o termo 'insubmergível'
para classificar a nave. Todavia, ao expor a rota traçada,
e observem que ele havia traçado uma rota (imaginem o que poderia
ocorrer se não houvesse uma rota traçada!) alguns tripulantes
de baixo escalão, bem como alguns passageiros com alguma experiência
em navegação no Atlântico norte, questionaram
a rota a ser seguida, pois havia o perigo de montanhas de gelo (icebergs),
tão comuns naquelas paragens nesta época do ano, cruzarem
a rota do navio. O comandante chegou a rir de tais questionamentos,
declarando que o navio era insubmergível, era moderno, tinha
muitos pontos fortes e não corria o menor risco. Como os subalternos
e alguns passageiros insistiram na possibilidade de uma ameaça
(um gigantesco iceberg, por exemplo) neutralizar os pontos fortes
do poderoso navio, o comandante acabou por chama-los de 'invejosos',
' negativistas' e outras coisas mais, declarando que estes subalternos
e passageiros apenas queriam aparecer negativamente, esquecendo-se
propositadamente dos inúmeros pontos fortes do navio.
Algumas horas de viagem haviam transcorrido quando um cabograma foi
recebido de um outro navio que havia passado pela rota que o Titanic
pretendia seguir, informando sobre a existência de enormes icebergs
na região. Novamente os subalternos se dirigiram aos oficiais
e ao comandante, questionando a rota a proposta, e novamente foram
taxados de 'eternos insatisfeitos' , 'críticos oportunistas'
e outras coisas mais. Mesmo quando os subalternos questionaram o comportamento
do imediato e do primeiro oficial, o comandante insistiu em não
mudar a rota, pois todos seus auxiliares diretos eram competentes
e já o haviam ajudado em ocasiões anteriores, segundo
o ponto de vista dele, comandante.
Temendo por suas vidas e pelas dos passageiros, os subalternos conseguiram
reunir um bom número de pessoas e foram, uma vez mais, falar
com o comandante que, finalmente, cansado de tantas críticas
e temeroso do que sua teimosia poderia acarretar, resolveu finalmente
alterar um pouco a rota. Foi em tempo. Um gigantesco iceberg surgiu
ao lado do Titanic, logo após a mudança de rota, e o
tocou de leve, na popa. Caso o comandante não tivesse ouvido
seus subalternos e passageiros, caso houvesse ele confiado apenas
nos oficiais de alto escalão que lhe eram diretamente subordinados,
o navio poderia, agora, estar no fundo do Atlântico, com inúmeros
mortos. Felizmente o comandante teve a humildade de aceitar críticas
ao seu trabalho e ao de seus subordinados diretos e mudou a rota em
tempo de salvar a nave."
Bem pessoal, esta teria sido a forma como a notícia poderia
Ter chegado naquele lamentável abril de 1912. De fato, alguns
questionaram o fato do Titanic haver negligenciado avisos sobre icebergs,
vindos do Carpaccia, mas o fato é que todos achavam que o navio
era insubmergível, e a tragédia todos conhecemos.
Assim pode ser com uma empresa, com uma cidade ou com um país,
ou até mesmo com nossa vida pessoal, quando deixamos que nossa
auto estima se eleve a tal ponto que chegamos a ser ufanistas, até
mesmo arrogantes, quando enxergamos sempre os pontos fortes e apenas
eles e não damos ouvidos às críticas, esquecendo-nos
de que outros nos amam (ou gostam da nossa empresa ou da nossa cidade)
tanto quanto nós e se criticam é porque querem nos ver
em melhor situação do que a que temos hoje. O campeão
começa a deixar de ser campeão quando acredita ser invencível.
O barco corre sério risco de afundar quando ninguém
questiona nada, quando todos aceitam certos dogmas, como ocorreu com
o Titanic, cujo comandante ignorou alertas sobre icebergs.
Pensemos, cada um de nós, no nosso barco que navega pela vida
tentando chegar ao porto do sonho - será que não estamos
querendo trombar com algum iceberg porque não aceitamos críticas
?